terça-feira, 27 de setembro de 2011

Quinta Avenida, 5 da Manhã

Estava com saudades de livros que contassem histórias de bastidores. Não é que me cai na mão este precioso livro que conta como “Bonequinha de Luxo” mudou a visão da mulher no cinema.

breakfast_with_hollyPrimeiro vamos nos localizar, as mulheres foram para as fábricas enquanto seus maridos estavam na guerra. Com a volta deles, as esposas são obrigadas a voltar para a cozinha e gostar disso. Então são bombardeadas com “Papai sabe Tudo”, martinis e vestidos rodados. No cinema ou você é Doris Day e se mantém virgem ou é uma doce devassa como Marylin Monroe.

  Então temos o grande Truman Capote que após conhecer Collete e se inspirar em seus “cisnes” basicamente 3 amigas que viviam com luxo e dividiram suas tristezas: uma garota de programa queholly-golightly-dressed-doll-the-five-and-ten vivia num prédio de tijolos marrons, Carol Marcus que ia a pé com Capote do Golf Key Club até Quinta Avenida onde um homem vendia Donuts e iam caminhando até a Tiffany’s, e finalmente Babe Paley rica e infeliz esposa de Bill Paley, criador da rede CBS que nunca largaria sua gaiola dourada. Quando o livro é publicado nesta época puritana, coincidemente todas as moças se dizem a verdadeira Holly Golightly que inspirou Truman.

Do outro lado temos o roteirista George Axelrod que é conhecido pelo roteiro de “O Pecado Mora ao Lado”  e desde que leu “Bonequinha de Luxo” quer muito colocar sexo inteligente no cinema. Depois de tentar os direitos do livro de Truman e ver que a Paramount comprou, deixar o escritor Sumer Locke Elliot fracassar num roteiro supérfluo. Axelrod tenta deixar o livro assistível. Se fosse uma comédia de Doris Day ela tentaria se manter intacta até o frame do casamento. Como Holly é uma moça livre o que impediria ficar com o protagonista? Ele também ser um garoto de programa portanto ninguém teria dinheiro para consumarem o ato. E aí entraria a questão de experimentar o amor ou as facilidades do dinheiro. Então com o argumento em mãos só falta achar a equipe ideal.

Holly-Golightly-and-Paul-Varjak-paul-varjak-and-holly-golightly-24466174-493-400 O livro é tão interessante que conta fatos muito peculiares como George Peppard e como o método do Actor Studios mal aplicado o ator ficava arrogante, como a cena da festa de Holly foi coreografada e foram contratados atores e não figurantes e que a atriz que caia teve dificuldade em fazer a cena e Blake Edwards foi muito duro com ela. O livro conta a batalha interna de Blake Edwards de conseguir ter a confiança de Audrey que em casa seu marido Mel Ferrer de certa forma desfazia a direção do diretor de “Um Convidado Bem Trapalhão”. E que a cena final tinha duas alternativas e foi escolhida a cena em que Peppard  faz o discurso que Holly não quer se libertar da gaiola. Como nesta cena com a fala de Paul: “Você se diz um espírito livre, uma ”rebelde”, mas morre de medo de que alguém a tranque numa gaiola. Bem, querida, você já está na gaiola. Você mesma construiu essa gaiola. E não tem como fronteira Tulip, Texas a oeste e Somália ao leste. Ela está onde você for. Porque, por mais que fuja, você vai sempre dar de cara consigo mesma.”

E o filme começa a falar com mulheres independentes que curtem a vida e moram sozinhas. Como vemos aqui a crítica Judith Crist: “Bonequinha de Luxo era diferente. Foi um dos primeiros filmes a nos pedir que simpatizássemos com uma moça ligeiramente imoral. O cinema começava a dizer que se você fosse imperfeita não precisava ser punida. Mas o que há de inteligente no final de Bonequinha de Luxo – essa é, evidentemente, a minha sensação – é que não se fica com a impressão de que os dois vão durar para sempre. Lembro-me de pensar sobre o personagem de George Peppard: “Bem, ele não vai ficar muito tempo. Só por que você dá o nome a um gato não quer dizer que ele não vá voltar para o beco? Entende o que quero dizer?”

Então uma garota de Tulip, Texas, que veste Givenchy, canta “Moon River” com inseguranças e medos mostrou que as mulheres não precisavam ser glamourosas só ser apenas elas mesmas.

6f87ef2c-0c94-414a-acd0-0f56ad35b4f6 QUINTA AVENIDA, 5 DA MANHA: AUDREY HEPBURN, BONEQUINHA DE LUXO E O SURGIMENTO DA MULHER MODERNA

Autor: Sam Wasson

Editora: Jorge Zahar

Nenhum comentário: